Lamentavelmente, a violência é uma realidade em muitas escolas brasileiras. A constatação veio em estudo publicado no Jornal da Universidade de São Paulo (USP), que identificou a existência de oito em cada dez jovens da região metropolitana de São Paulo dizendo ter presenciado ao menos uma situação de violência contra adolescentes nas escolas. Entre janeiro e agosto de 2022, foram registrados mais de 100 boletins de ocorrência por lesão corporal e ameaça nas escolas do Tocantins. Em Alvorada, município de região metropolitana de Porto Alegre, não é diferente.

Junto aos dados alarmantes de violência física e verbal, a violência digital também manifesta-se, mesmo que as tecnologias digitais contribuam no processo de ensino e aprendizagem. A violência acontece através das mídias sociais, como o Whatsapp e Instagram.

Os meios tecnológicos permitem que as pessoas – adultos, crianças ou adolescentes – percam os seus filtros sociais, pois as mídias sociais potencializam a impulsividade. Chamada de cyberbullying, a violência digital pode e deve ser combatida por professores e gestores.

CAUSAS DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Existem maneiras de mapear as causas da violência nas escolas. Algumas pessoas ficam agressivas por sentir-se poderosas dentro de um contexto em que, na verdade, estão fragilizadas. Para sentir-se popular socialmente, essas pessoas acabam agredindo e hostilizando aqueles que estão à sua volta.

Em mesmo nível, a saúde mental de crianças e jovens vítimas de violência sofre impactos negativos, que podem agravar os riscos de depressão e tendências suicidas. E quando uma pessoa ou um grupo atua de modo violento, a autonomia da vítima e até o direito dela de ir e vir acaba sendo cerceado de forma opressora.

Gestores, educadores e membros da comunidade escolar devem estar atentos aos primeiros sinais de situações violentas. Torna-se fundamental que a gestão escolar oriente a equipe docente a identificar e acompanhar casos de bullying, por exemplo.

O ideal seria agir de forma preventiva e procurar identificar situações quando elas estão começando a surgir, a partir da observação às mudanças comportamentais dos estudantes. Os professores devem ter olhar e a escuta ativa, para detectar atritos que vem começando.

EDUCADORES SEM SUPORTE

Mas hoje, os próprios educadores carecem de suporte para encarar esse desafio. As políticas de sucateamento praticadas pelo governo municipal nos últimos cinco anos, a partir do atrelamento de gestores às indicações partidárias da base do governo; da censura ao debate sobre os problemas do cotidiano das escolas; o assédio moral constante e a falta de professores e de políticas de investimento na ampliação do atendimento em educação infantil e fundamental.

Nestes cinco anos ainda sofremos com a defasagem de cinco mil vagas na educação infantil, pois não houve a construção de nenhuma escola municipal. Faltam políticas efetivas para sanar as lacunas de aprendizagem causadas pela pandemia, além da inexistência de estruturas próprias para promover a inclusão efetiva de todos os estudantes.

Há também uma recusa em reconhecer o direito dos trabalhadores da educação ao piso salarial e ao plano de carreira para todos os setores das escolas, sem falar da renúncia em proporcionar uma formação efetiva para os educadores, fatores que criaram um clima de constante insegurança, cansaço e desesperança no ambiente escolar, no qual prevalece a prática de apagar um incêndio por dia e “se virar” com o que tem.

Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)