Vera Brazil*
Ser mulher no Brasil é um grande desafio. Compreender e estar junto, entendendo que a luta das mulheres é uma luta que busca humanizar o mundo que insiste em ver os seres humanos como objetos e não como sujeitos. É precisamente o que nos convoca a resistir, insistir e avançar cotidianamente na luta para desconstruir o que nos desumaniza. Mas estar e participar do movimento sindical atual pode ser um caminho? O que as mulheres têm a ver com isso? Pensar e participar do movimento sindical no contexto atual exige pensar no conjunto de trabalhadoras: as que tem trabalho, as que tem trabalho precário e as que não tem acesso a condições mínimas de dignidade. Portanto, como mulheres, precisamos construir um sindicalismo de movimento social.
Nós mulheres nos inserimos num sindicalismo em crise porque estes espaços já foram hostis em relação a presença feminina, devido à entrada tardia das mulheres no mercado de trabalho formal. Houve um tempo em que fomos acusadas de dividir a luta dos trabalhadores por apontarmos demandas ditas especificas (creches, licença maternidade entre outras), isto sem falar no machismo presente em nosso cotidiano. Mesmo nestes contextos adversos, nós mulheres desenvolvemos rapidamente estratégias para sobreviver e ampliar o papel dos sindicatos com os movimentos sociais, em especial o feminismo. Essa relação com o feminismo contribui para politizar as relações de trabalho (entre o produtivo e o reprodutivo) e de poder, sob a máxima de que “o pessoal é político”.
Nós que cotidianamente vivenciamos uma realidade massacrante, enquanto grande maioria do conjunto dos servidores públicos, com a alcunha de sermos marajás responsáveis pela falta de investimentos nas diversas áreas, também estamos ameaçadas de demissão em massa com o fim da estabilidade e com a reforma administrativa. Nós, principais vítimas do assédio moral. Nós, mulheres negras triplamente discriminadas. Nós, mulheres terceirizadas e com direitos sonegados. Nós, mulheres diaristas ou desempregadas. Nós, professoras, que trabalhamos na construção de novas possibilidades a outros, que levamos trabalho para casa, que nos negam um piso salarial nacional, trabalhadoras da educação, guardas e vigias, trabalhadoras da saúde e auxiliares administrativas queremos construir junto com todos, esta ideia de sindicalismo de movimento social. Propomos um desafio por mais movimento e menos instituição, mais democracia e participação e menos hierarquia, por mais parcerias, por mais políticas sociais e públicas e menos corporativismo.
Sabemos que é um grande desafio, sabemos que não será fácil. Nós sindicalistas (na direção sindical ou nos grupos setoriais), nós que participamos eventualmente ou efetivamente da vida sindical no SIMA queremos ser uma potência a partir de nossa condição e lugar de fala em nossa cidade. Queremos parir aqui e agora a possibilidade de mudar o mundo a partir da nossa cidade. Que o 8 de março não seja discurso, flores ou chocolates, que ele seja dia de reflexão sobre o que queremos construir, que nossa voz e nossa ação seja nosso melhor discurso que sejamos UNIÃO, COMPROMISSO E LUTA!
*Vera Brazil é 2ª Vice-Presidenta do SIMA e membra do Conselho de Saúde de Alvorada.