O Dia Mundial da Água – 22 de março – encontra o município de Alvorada novamente sem água, uma situação recorrente que tem afetado milhares de pessoas na Região Metropolitana de Porto Alegre. Apesar do calor e da estiagem, nem todos os problemas no abastecimento podem ser atribuídos ao fenômeno climático. Em alvorada, a vazão da água diminui até faltar definitivamente. A data mundial acende o alerta para a importância do líquido como aliado da saúde da população.

Essa ocorrência não é culpa apenas da baixa dos rios. O transtorno também é devido a rompimentos de tubulações e paralisações nas estações de tratamento de água da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Em função da pouca chuva, os mananciais, em especial do Rio Gravataí, ficaram mais baixos. O fato contribuiu para a proliferação de algas, que alteram o gosto, o cheiro e a cor da água que sai da torneira.

ÁGUA COMO MERCADORIA

Rodinei Rosseto, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alvorada (SIMA), lamenta que, andando na contramão do interesse popular, a água venha sendo tratada como mercadoria e posta à venda como objeto precificado. “Por representar vida e saúde, o bem deveria ser mantido sob o controle público. A tarifa social, que hoje possibilita o acesso a milhares de famílias pobres, acaba com a privatização”, observa o sindicalista.
Como prova do mercantilismo com a água, Rosseto cita privatização da companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), em 20/12/2022, em proposta única de R$ 4,151 bilhões. O vencedor foi o consórcio Aegea, líder em saneamento básico do setor privado no Brasil que já atua no Rio Grande do Sul, por meio de parceria público-privada (PPP) com a Corsan para a coleta e tratamento de esgoto na região metropolitana de Porto Alegre.

Agindo na mesma direção, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), assinou, em 30/11/2022, a criação de um grupo de trabalho para definir o modelo de privatização do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae).

CORSAN PRIVATIZADA – Mesmo tendo instituído o Plano Municipal de Saneamento Básico (PLAMSAB), o Fundo Municipal de Saneamento e a Conferência Municipal de Saneamento Básico, em maio de 2017, é a Corsan que vem executando uma série de ações para melhorar a disponibilidade hídrica nas captações localizadas no rio Gravataí para garantir o abastecimento de água para mais de 750 mil pessoas de Gravataí, Alvorada e Viamão.

AS DOENÇAS DA FALTA DE SANEAMENTO

As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) – Diarreias, Febres Entéricas, Hepatite A, Dengue, Febre Amarela, Leishmanioses – constituem um conjunto de agravos transmissíveis à saúde, relacionados ao contexto ambiental, à infraestrutura, aos serviços e às instalações operacionais que contribuem ou dificultam a reprodução da vida.

Tais doenças podem se causadas pela inadequação dos sistemas e serviços de saneamento, como o abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, manejo de águas pluviais, proliferação de vetores; ou às condições precárias das habitações.

Conforme a DataSUS/SIM, de 1996 a 2020, foram registradas em Alvorada 146 mortes por Doenças Relacionadas ao Saneamento Inadequado (DRSAI). Em 2020, foram registradas 6 mortes.

DIA DE REFLEXÃO

Para o presidente do SIMA, o Dia Mundial da Água é uma data que impõe a reflexão sobre como tratamos de questões essenciais, como a importância do consumo da água potável. Rosseto alerta que o processo de tratamento da água pode evitar que as pessoas adoeçam por microrganismos ou substâncias que podem estar presente em uma água que sem o devido tratamento. Daí a importância de conscientizar as pessoas para consumir apenas água tratada”, sintetiza.

Rosseto lembra que as deficiências de atendimento à população são enormes, desde a deficiência no transporte público e na coleta de lixo e a falta de médicos nos postos de saúde, todos causados pela ineficiência do governo municipal. O líder social condena a desvalorização dos Servidores provocada pela administração, que gasta o dinheiro público em terceirizações mal feitas e na contratação de cargos de confiança, que exercem as funções dos servidores públicos concursados.

Rodinei Rosseto recomenda que, neste período de falta de chuvas e baixo volume de água disponível para o abastecimento, é fundamental o uso responsável da água, através de atitudes simples e ao alcance de todos, como tomar banhos curtos, molhar as plantas com regador, não lavar a calçada e não lavar o carro. “Falta a prefeitura assumir o papel de gestora com responsabilidade”, afirma o presidente do SIMA.

Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)