A parceria entre a Escola de Gestão do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alvorada (SIMA), o Campus Alvorada do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e a Organização Não-Governamental Umbúntu cumpriu o objetivo de mostrar que todo o indivíduo pode construir a própria moradia lançando mão de materiais de baixo impacto ambiental e fazendo uso de recursos naturais presentes no local da obra ou nas proximidades dela. A realização do curso “Técnicas de Bioconstrução: bambu a pique e tijolos de adobe”, gratuito e aberto ao público em geral, resgata a boa prática das oficinas coletivas e do mutirão.

Momentos da produção do barro para compor tijolos e adobe

A empreitada ganhou forma desde as primeiras horas do dia 20 de novembro, na sede da Organização Não-Governamental Umbúntu, um projeto social inserido no bairro Umbu, uma comunidade marginalizada de Alvorada, um dos municípios mais pobres do Brasil. Coordenado pelo casal de professores Eduardo Fortes e Miriam Fortes Santos, a ONG tem como premissa a filosofia milenar africana Ubuntu: “Eu sou porque nós somos”.

Fortes esclareceu que a escolha daquela data não fora casual. Naquele dia, em 1695, era morto Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra contra a opressão e, sobretudo, a escravidão. A data sugere a intensão de rediscutir e recaracterizar o conceito de quilombo, um território em que a comunidade possui identidade social, mas luta sem o devido amparo do poder público.

O curso foi ministrado pelos professores Diovanny Coutt de Freitas, Eduardo Fortes Santos, Gabriel Tallian da Silva e Rubens Steinmetz da Rosa.

OFICINA EM FORMA DE MUTIRÃO

A formação começou às 8h, com uma conversa sobre as características daquele tipo de construção, sendo prolongada até às 19h, cumpridas 10 horas de carga horária. No caso do Brasil e de Alvorada, especificamente, o recurso local mais abundante é a terra. As vantagens de construir com terra estão na economia de recursos financeiros e a sustentabilidade.

A partir de técnicas de bioconstrução, a sede, o banheiro seco e a cozinha são erguidos com tijolos de adobe, cuja composição é terra, água e palha. O projeto ainda incentiva o recolhimento de garrafas de vidro, que também são usadas na obra, em paredes. As garrafas são encontradas no lixão localizado nas proximidades.

Agradecida, Mariazinha de Iemanjá estava radiante com a construção do espaço de seu terreiro

UM TERREIRO PARA MARIAZINHA DE IEMANJÁ

Maria de Fatima Buratto, a “Mariazinha de Iemanjá”, descreveu a emoção de ter sua casa escolhida para a execução prática dos conceitos de bioconstrução. Ela viu realizado o sonho da ampliação do terreiro, que fica localizado nas imediações da ONG Umbúntu e destacou a união de muitas mãos e saberes pela concretização de um espaço de construção diferenciada.

Antropóloga e educadora social, Lizi Kersting considerou sua atuação na oficina como um resgate dos saberes ancestrais da bioconstrução, que dá às comunidades periféricas uma opção segura, moderna e barata de moradia.

Para saber mais sobre o curso “Técnicas de Bioconstrução: bambu a pique e tijolos de adobe”, entre em contato com a ONG Umbúntu pelo Whatsapp (51) 989 26 25 80 e fale com Miriam e Eduardo Fortes.

Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)

As garrafas, de diferentes tamanhos e cores, servem para compor as paredes da edificação